
Por Ana Carolina Moura*
Há algumas semanas, logo no início do ano, após voltar de férias, me foi pedida uma tarefa, que a princípio achei bastante interessante: fazer uma redação sobre como eu pensaria na cidade para os próximos anos. Como Arquiteta e Urbanista, adorei poder colocar algumas ideias no papel, ainda que parecessem utópicas ou inviáveis.
A ideia central do texto era se colocar no futuro, daqui a 25 anos, como um jornalista que fazia uma reportagem falando sobre o que fora feito na cidade nas últimas décadas. Apesar do texto fictício, procurei colocar algumas ideias bem plausíveis e exequíveis, por entender que esta era a função principal do texto.
Como penso que o Planejamento Urbano de uma Cidade Inteligente deve ser feito com a participação popular (e eu só corroboro com ideias de urbanistas e autores renomados como Lynch, Jacobs e Gehl, este último com um ótimo site, o Making Cities for People) resolvi publicar o texto aqui no Coletivo Metranca, abrindo espaço para a discussão de ideias para a nossa cidade.
Uma parte deste texto fictício, trabalha com tecnologia aplicada em diversos setores da cidade, auxiliando no engajamento da população e sua comunicação com o poder público. Este é um tema que vem me interessando há muito tempo, inclusive tendo se tornado meu projeto de pesquisa de mestrado, testando a aplicabilidade de Realidade Virtual e Aumentada em edificações históricas. Afinal, não seria interessante conhecermos melhor o nosso passado, usando ferramentas já tão comuns no nosso dia a dia, como aplicativos para celular? E não seria bom podermos alertar a governança sobre problemas do nosso cotidiano, através de um canal aberto monitoramento popular, de uso simples?
Gosto de acreditar que sim e que a tecnologia está aí para facilitar as coisas. Não há que se confundir, no entanto, cidade inteligente, com cidade conectada, erro comum de alguns planejadores das cidades. Jogar wi-fi nas praças e criar aplicativos sem efetivamente se ouvir a cidade e se atender aos anseios de seus moradores não é pensar em cidade inteligente. Para isso o fator primordial é criar cidades para pessoas. Aquelas que usam (mesmo!) o transporte coletivo, a rua, a praça, o lazer gratuito. Aquelas que moram em um ponto e trabalham em outro, as associações de moradores, o usuário dos serviços públicos de saúde e educação. Aquelas que sofrem com os alagamentos. É para esses interesses que a cidade deve ser planejada. É por isso que se deve pensar em Planejamento Urbano saudável, com mobilidade urbana, arborização, qualidade de vida e sustentabilidade.
Vou resumir alguns pontos desse textão que ficou a redação (que agora passa a ser artigo) intitulada “Joinville rumo ao Bicentenário”. O texto na íntegra pode ser lido aqui: Joinville rumo ao bicentenário
Sem a pretensão que gostem, ou achem uma completa viagem literária, compartilho aqui um resumo das minhas ideias, esperando que outras pessoas façam o mesmo!
- Campanha “Ouvir a Cidade” – participação popular no Planejamento Urbano
- Ocupação da área central como ponto de moradia
- Praças e parques criados de acordo com as necessidades de cada comunidade em cada bairro
- Ciclovias traçando as principais rotas de deslocamento da cidade
- Projeto de Arborização Urbana – plantio de árvores adultas nas principais vias e rotas de acesso aos bairros
- Incentivo do uso de transporte não poluente: incentivo fiscal às empresas que implantassem vestiários em suas unidades e flexibilização de horas para os funcionários que optassem por ir de bike ao trabalho
- Criação do Parque Linear Cachoeira e reestruturação do Parque da Cidade
- Cidade voltada para o mar: utilização os potenciais dos manguezais como meio biótico e de lazer e resgate da relação da cidade com as águas da Baía da Babitonga
- Requalificação do Porto Bucarein – turismo e lazer
- Turismo e lazer como condição e viabilização de projetos de Sustentabilidade
- Promoção de empregos no eixo Sul – menor deslocamento casa-trabalho
- Inovação tecnológica: pólo tecnológico através de parcerias com as universidades federais, estaduais e particulares da região
- Startups, universidades e centros de formação tecnológica com prioridade na ocupação da Zona Sul
- Aplicativos de monitoramento coletivo criando canais de comunicação dos usuários da cidade com sua governança
- “Realidade Aumentada – Janela do Passado”: as principais edificações históricas de Joinville levantadas por escaneamento digital em uma ação conjunta de técnicos universidades e sociedade, e posteriormente podendo ser acessadas através de aplicativos de Realidade Virtual e Aumentada
- Reconstituição e ressignificação de memórias de bens tombados e não tombados da cidade através da tecnologia digital
Ana Carolina Moura*
Arquiteta e Urbanista / Professora / Mestranda em Patrimônio Cultural e Sociedade (Univille)
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