
Ela diz que não gostou do café da manhã, olha para o lado, ajeita os óculos, vira a página do livro e continua lendo como se não estivesse lendo nada.
O olhar dela tem essa mania.
Ele levanta lentamente, tão lentamente que parece ter ensaiado seu corpo para acordar, rola pela cama até chegar ao fim, cai ou levanta.
Lentamente
As folhas caem com facilidade o outono tem dessas coisas.
Ela fecha a cortina, o sol sempre foi um ruído para seu cérebro…
Ele chega e logo dorme.
Ela escreve
Ele vê
Ela enxerga
Lábios
Ela não gosta de doce, na verdade não sabe se gosta tem preguiça de provar, ele chega em casa com caramelos.
Ela prefere pizza. Ele doce de leite.
Sofá
O que acontece com a alma quando o corpo não sabe o que fazer?
O que acontece com o coração quando o pulmão começa a desaparecer?
Ah não sei
Não sei
Não sei
Hoje estou como ontem só que mais velha
Não há como resistir
Mas a sensação de não ter feito a diferença em nada do que me cerca é triste.
Não estou decepcionando ninguém.
Isso é muito pior.
Só eu sei tudo que não fiz.
Não há ninguém para culpar.
Água
Sempre tenho muita sede e poucas vezes bebo água.
Sono
No sono sempre o mesmo sonho, um avião caindo, sempre o mesmo sonho um avião caindo, sempre tenho o mesmo sonho um avião caindo, sempre tenho o mesmo sonho um avião caindo, sempre tenho o mesmo sonho um avião caindo, sempre tenho o mesmo sonho um avião caindo, sempre tenho o mesmo sonho, um avião caindo.
Explosão.
Ela deve gostar do almoço.
Apesar de estar achando a fome algo tão circunstancial.
Comer não tem mais o mesmo gosto. Não é mais necessidade é acaso.
Uma leve expressão do desejo do corpo em existir.
Olhos
Após fechar a cortina a retina acalma, a pálpebra lentamente pode se deixar levar pelo desejo de abrir.
Luz
Trancada para o lado de fora o que resta para satisfazer à escrita é a artificialidade presa dentro da sala, na utilização de uma lâmpada que não causa horror, nem dor, mas é tão distanciada do natural quanto seu sorriso em determinadas situações.
Hoje
Ela foi sofá, foi mais sofá que gente, ficou presa a ele, deitada lá por horas, depois que acordou se deu conta que aquele tempo não iria mais voltar, entristeceu.
Espera um novo sol, para sair e se desculpar com a vida. O que fica entre a porta depois da luz que atravessa meus olhos antes dos pés…
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